O tratamento do cancro do ovário

A maioria das doentes com cancro do ovário querem ter um papel ativo nas decisões sobre os cuidados médicos que lhes são prestados. É natural querer saber o mais possível sobre a sua doença e as opções de tratamento. Conhecer melhor o cancro do ovário ajuda muitas mulheres a enfrentá-lo.

Contudo, o choque e a tensão que as pessoas habitualmente sentem após um diagnóstico de cancro fazem com que seja difícil pensar em tudo o que gostariam de perguntar ao médico. Muitas vezes, é útil preparar uma lista de perguntas antes da consulta.

Na consulta com o médico

Para ajudar a relembrar o que o médico disse, os doentes podem tirar apontamentos ou pedir autorização para utilizar um gravador. Algumas doentes querem ainda ter consigo um familiar ou amigo quando falam com o médico – para participar na discussão, tomar notas ou simplesmente ouvir.

Não é necessário fazer todas as perguntas nem compreender todas as respostas de uma só vez. Haverá certamente outras oportunidades para pedir ao médico que lhe explique o que não percebeu e para solicitar mais informações.

  
  

Ouvir um especialista

O médico pode encaminhar a doente para um ginecologista oncológico, um cirurgião especializado no tratamento do cancro do ovário. Os outros médicos que tratam mulheres com cancro do ovário são os ginecologistas, os oncologistas médicos e os radio-oncologistas. Poderá ter uma equipa de médicos e enfermeiros.

O médico pode encaminhar a doente para um ginecologista oncológico, um cirurgião especializado no tratamento do cancro do ovário. Os outros médicos que

  
  

Obter uma segunda opinião

Antes de iniciar o tratamento, a doente pode querer uma segunda opinião relativamente ao diagnóstico e ao plano de tratamento. Reunir os resultados dos exames médicos e preparar-se para consultar outro médico pode demorar algum tempo. Na maioria dos casos, um breve atraso não reduz a eficácia do tratamento. Para ter a certeza, deve falar com o seu médico sobre este atraso no início do tratamento. Algumas mulheres com cancro do ovário necessitam de tratamento imediato.

Planeamento do tratamento

O tipo de tratamento é definido por uma equipa multidisciplinar - constituída por médicos oncologistas, cirurgiões, radio-oncologistas e médicos geneticistas, entre outros – em consonância com as preferências do doente, atendendo aos seguintes parâmetros:
  • tipo histológico;
  • presença de alterações genéticas herdadas (síndromes hereditários) e/ou no tumor;
  • extensão da doença;
  • condição geral de saúde do doente.

A equipa de médicos que acompanha cada doente com cancro do ovário irá propor o tratamento que for mais adequado e informar acerca dos riscos e benefícios. O doente, caso concorde, terá de dar o seu consentimento para iniciar tratamento por escrito (consentimento informado).

O tratamento do cancro do ovário assenta num pilar fundamental, que é a remoção do tumor por recurso a cirurgia sempre que possível. A maior parte das vezes, a cirurgia é acompanhada por quimioterapia. Atendendo à extensão da doença e suas localizações, poderão ser necessários tratamentos adicionais tais como radioterapia ou outro tipo de tratamentos médicos.

Métodos de tratamento

CIRURGIA

O objetivo deste tratamento é remover todo o tumor (citorredução completa) ou, se tal não for possível, remover a maior quantidade que se conseguir.  Quando a cirurgia completa é possível, são removidos ambos os ovários e trompas de Falópio (salpingo-oooforectomia bilateral), o útero (histerectomia total) e o omento (omentectomia). Durante a cirurgia são obtidas amostras que permitem determinar a extensão da doença, tais como líquido ascítico da cavidade peritoneal e biopsias de zonas suspeitas.

Por vezes, é necessário remover outros tecidos /partes de órgãos devido à infiltração por doença, tais como parte do intestino (colectomia parcial).

Quimioterapia

Quando falamos de quimioterapia, estamos a referir-nos a um grande grupo de medicamentos de famílias distintas que matam ou diminuem o crescimento das células cancerígenas. A maioria das quimioterapias não são específicas para cancro e por isso apresentam efeitos secundários.

No cancro do ovário, a quimioterapia pode ser usada em diferentes momentos:
  • Quimioterapia adjuvante: utilizada depois da cirurgia inicial, tem como objetivo destruir células que possam ter-se disseminado e não tenham sido removidas cirurgicamente, de forma a diminuir o risco do cancro voltar.
  • Quimioterapia neoadjuvante: iniciada antes da cirurgia, com o intuito de ajudar a diminuir o tamanho do tumor e a permitir uma cirurgia mais eficaz;
  • Quimioterapia paliativa: utilizada como tratamento principal sempre que não é possível submeter o doente a uma cirurgia, tem como objetivo diminuir o volume tumoral de forma a ajudar a manter a doença controlada pelo maior tempo possível.

No cancro do ovário, inicia-se sempre que possível a quimioterapia com uma combinação de dois fármacos: carboplatina e paclitaxel por via endovenosa.

Se houver uma recidiva ou persistência da doença, ou por algum outro motivo se tiver de mudar de tratamento (por exemplo, uma reação alérgica grave), pode ter de se usar fármacos diferentes ou pode voltar a fazer-se o mesmo tratamento, dependendo do tempo que demorou até à doença voltar. Dentro de outros tipos de quimioterapia que se podem usar, incluem-se:

  • cisplatina;
  • docetaxel;
  • gemcitabina;
  • doxorrubicina lipossómica;
  • topotecano.
Terapêuticas Dirigidas

O tratamento do cancro do ovário, trompa de Falópio e peritoneu tem vindo a beneficiar do maior conhecimento relativamente à biologia molecular da doença e existem atualmente outros tratamentos dirigidos a alterações específicas que são usados em grupos de doentes.

Estes tratamentos, denominados terapias dirigidas (ou alvo), foram desenvolvidos com o intuito de atuar em alterações moleculares que estão presentes mais frequentemente nos tumores que no tecido normal.

Apesar disso, por vezes também atuam em células normais e/ou o tumor acaba por se adaptar e ganhar resistências, pelo que nem sempre são eficazes por períodos prolongados e também apresentam efeitos secundários.
  • Os Inibidores da PARP (iPARP) são um grupo de medicamentos desenvolvidos inicialmente para doentes que herdaram dos seus pais mutação nos genes BRCA1 ou BRCA2. À medida que os ensaios clínicos foram avançando, percebeu-se que alguns doentes que não herdaram a mutação mas cujo tumor apresenta essa alteração e doentes sem essa mutação, mas com boa resposta ao tratamento inicial de quimioterapia, também podem beneficiar de tratamento com outro fármaco dessa família. Atualmente, os doentes com indicação para tratamento com iPARP são tratados num regime denominado tratamento de manutenção, ou seja, depois de terminar a quimioterapia mantêm estes medicamentos enquanto a doença estiver controlada. Existem vários iPARP em desenvolvimento e outros já estão comercializados. Estes medicamentos têm a particularidade de serem tomados por via oral (comprimidos).
  • Outro tratamento dirigido que é possível utilizar no cancro do ovário é um anticorpo monoclonal que visa diminuir os vasos sanguíneos que alimentam o tumor, não lhe fazendo chegar “alimento” para sobreviver. Este anticorpo anti-VEGF é associado à quimioterapia numa fase inicial e, posteriormente, em regime de manutenção.
  • Num grupo particular de cancro do ovário – carcinomas serosos de baixo grau -, o tumor pode apresentar alterações nos genes RAS ou RAF, que o tornam elegível para iniciar tratamento com medicamentos denominados inibidores BRAF ou inibidores MEK. Para tal, é necessário que o tumor seja analisado com recurso a técnicas de biologia molecular, para pesquisar a presença de mutações nestes genes que sejam indicadores de benefício de resposta a estes tratamentos-alvo.
  • No cancro do ovário também se pode utilizar tratamentos de hormonoterapia. Dentro deste tipo de tratamentos, podemos encontrar fármacos que bloqueiam a ação de hormonas sexuais que temos normalmente no nosso corpo – tais como bloqueadores do receptor dos estrogénios – e outros que interferem na síntese dessas hormonas – por exemplo, os fármacos inibidores da aromatase.
Ensaios clínicos

Os ensaios clínicos são a ferramenta que temos ao nosso dispor para melhorar os tratamentos oncológicos, no sentido de serem cada vez mais eficazes e menos tóxicos.

Apesar dos avanços dos últimos anos, a margem para melhoria é ainda muito grande e, por isso, sempre que haja a possibilidade de incluir um doente num ensaio clínico deve ser ponderada, uma vez que poderá estar a ter acesso a um fármaco inovador que pode fazer a diferença.

A legislação europeia e nacional que regulamenta os ensaios clínicos garante que serão respeitados os pressupostos éticos e que o doente terá sempre acesso a tratamentos iguais ou melhores ao tratamento convencional.

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