O tratamento do cancro do cérebro

Muitos doentes com tumores cerebrais exigem ter um papel ativo nas decisões sobre os cuidados médicos que lhes são prestados. Querem estar o mais informados possível sobre a sua doença e as opções de tratamento.

Contudo, o choque e a tensão que as pessoas habitualmente sentem após um diagnóstico de cancro fazem com que seja difícil pensar em tudo o que gostariam de perguntar ao médico.

Muitas vezes, é útil preparar uma lista de perguntas antes da consulta.

Para ajudar a relembrar o que o médico disse, os doentes podem tirar apontamentos ou pedir autorização para utilizar um gravador. Alguns doentes querem ainda ter consigo um familiar ou amigo quando falam com o médico – para participar na discussão, tomar notas ou simplesmente ouvir.

  
  

Falar com o médico

O médico pode encaminhar o doente para um especialista ou o próprio doente pode solicitar esse encaminhamento.

Os especialistas que tratam tumores cerebrais são os neurocirurgiões, neuro-oncologistas, oncologistas e radioncologistas. O doente pode ser reencaminhado para outro profissional de saúde que faça parte da equipa. A equipa médica pode ser constituída por um enfermeiro, um nutricionista, um psicólogo, um assistente social, um fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional e um terapeuta da fala.

As crianças poderão necessitar de alguém que as ajude nos trabalhos escolares.

Ouvir uma segunda opinião

Antes de iniciar o tratamento, o doente pode querer uma segunda opinião relativamente ao diagnóstico e ao plano de tratamento. Existem várias formas de encontrar um médico para obter uma segunda opinião.

O seu médico pode encaminhá-la para um ou mais especialistas. Nos centros de oncologia, vários especialistas trabalham em equipa.

Preparação para o tratamento

O médico pode descrever as opções de tratamento e discutir os resultados esperados para cada opção. O médico e o doente podem trabalhar em conjunto no desenvolvimento de um plano terapêutico adaptado às necessidades do doente.

O tratamento depende de vários fatores, designadamente o tipo, localização, tamanho e grau do tumor. Em certos tipos de tumor cerebral, o médico também necessita de saber se foram identificadas células cancerígenas no líquido cefalorraquidiano.

Estas são algumas das questões que o doente poderá querer colocar ao médico antes de iniciar o tratamento:
  • Qual é o meu tipo de tumor?
  • Trata-se de um tumor benigno ou maligno?
  • Qual é o grau do tumor?
  • Quais são as minhas opções de tratamento? O que é que me recomenda? Porquê?
  • Que benefícios posso esperar de cada tipo de tratamento?
  • Quais são os riscos e possíveis efeitos secundários dos tratamentos?
  • Qual é o custo estimado do tratamento?
  • De que forma é que o tratamento afetará as minhas atividades normais?
  • A participação num ensaio clínico (estudo de pesquisa) poderá ter interesse para mim? Pode ajudar-me a encontrar um?

Métodos de tratamento para o cancro do cérebro

Os doentes com tumores cerebrais dispõem de várias opções de tratamento. Consoante o tipo de tumor e o seu estadio, os doentes podem ser submetidos a cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Alguns doentes recebem um tratamento combinado. De acordo com o tipo de tumor e as condições do doente, o tratamento é determinado em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

Em qualquer estadio de evolução da doença, os doentes podem receber tratamento para controlar a dor e outros sintomas, para atenuar os efeitos secundários do tratamento e para reduzir os problemas emocionais. Este tipo de tratamento é designado por controlo dos sintomas, cuidados de suporte ou cuidados paliativos.

O médico é a pessoa mais indicada para descrever as opções de tratamento e discutir os resultados esperados.

O doente pode querer debater com o seu médico a possível participação num ensaio clínico, ou seja, num estudo de investigação de novos métodos de tratamento.

CIRURGIA

cirurgia é um tratamento comum para a maior parte dos tumores cerebrais. A cirurgia para abrir o crânio é designada por craniotomia. Este procedimento é realizado mediante anestesia geral. Antes de iniciar a cirurgia, o couro cabeludo é rapado; o neurocirurgião efetua então uma incisão no couro cabeludo e utiliza um tipo especial de serra para remover um osso do crânio. Depois de remover parte ou a totalidade do tumor, o cirurgião cobre a abertura do crânio com o osso removido ou com uma peça metálica ou de tecido. Por fim, o cirurgião fecha a incisão do couro cabeludo.

Estas são algumas das questões que o doente poderá querer colocar ao médico antes da cirurgia:
  • Como me irei sentir depois da operação?
  • Se tiver dores, o que é que pode fazer?
  • Quanto tempo terei de ficar no hospital?
  • Terei alguns efeitos a longo prazo? O meu cabelo volta a crescer? Podem ocorrer efeitos secundários devidos ao uso de metal ou tecido para substituir o osso do crânio?
  • Quando posso retomar as minhas atividades habituais?
  • Qual é a probabilidade de recuperar totalmente?

Por vezes, não é possível realizar a cirurgia. Se o tumor estiver localizado no tronco cerebral ou noutras áreas, o cirurgião poderá não conseguir remover o tumor sem lesionar o tecido cerebral normal.

Os doentes que não podem ser submetidos a cirurgia, são tratados com radiação ou outras abordagens.

Radioterapia

radioterapia (terapia por radiação) utiliza raios de alta energia para matar  as células cancerígenas. A radiação é emitida a partir de raios X, raios gama ou protões. Um aparelho de grande dimensão dirige a radiação para o tumor e para os tecidos adjacentes. Por vezes, a radiação pode ser direcionada para todo o encéfalo ou para a espinal medula.

Geralmente, a terapia por radiação é efetuada depois da cirurgia. A radiação mata as células tumorais que possam ter permanecido nessa região. Os doentes que não podem ser submetidos a cirurgia são muitas vezes tratados com radiação.

Este tipo de tratamento é efetuado num hospital ou clínica. A calendarização do tratamento depende do tipo e dimensão do tumor, bem como da idade do doente. Cada sessão demora apenas alguns minutos.

Devem ser tomadas medidas para proteger o tecido saudável em redor do tumor cerebral:

  • Fracionamento– Geralmente, a radioterapia é administrada 5 dias por semana, durante várias semanas. A administração da dose total de radiação por um período prolongado ajuda a proteger os tecidos saudáveis na área do tumor.
  • Hiperfracionamento– Nesta caso, são administradas ao doente doses menores de radiação, duas ou três vezes por dia, em vez de uma dose diária mais elevada.
  • Terapia por radiação estereotáxica – Feixes estreitos de radiação são direcionados para o tumor, a partir de diferentes ângulos. Para este procedimento, é utilizada uma armação rígida para a cabeça do doente. A ressonância magnética (RM) ou TC criam imagens com a localização exata do tumor. O médico utiliza o computador para decidir qual a dose de radiação necessária, bem como o tamanho e os ângulos dos feixes. Esta terapia pode ser administrada numa única consulta ou em várias.
  • Terapia por radiação tridimensional conformada – O computador cria uma imagem tridimensional do tumor e do tecido cerebral circundante. O médico dirige múltiplos feixes de radiação para o local exato do tumor. A focagem precisa dos feixes de radiação protege os tecidos cerebrais normais.
  • Terapia por radiação com feixe de protões – Neste caso, a fonte de radiação são os protões, em vez dos raios X. O médico dirige os feixes de protões para o tumor. Os protões conseguem atravessar os tecidos saudáveis sem os danificar. Em Portugal ainda não dispomos desta tecnologia. Prevê-se a construção de duas unidades, uma em Loures e outra em Coimbra.
Estas são algumas das questões que o doente poderá querer colocar ao médico sobre a radioterapia:
  • Por que necessito desta terapia?
  • Quando começarão os tratamentos? Quando terminarão?
  • Como me irei sentir durante a terapia? Existem efeitos secundários?
  • Que cuidados devo ter comigo durante o tratamento?
  • Como sabemos se a radiação está a resultar?
  • Poderei realizar as minhas atividades habituais durante o tratamento?
Quimioterapia

A quimioterapia (QT)  utiliza fármacos para matar células cancerígenas, e é também utilizada no tratamento de tumores cerebrais. Os fármacos podem ser administrados por via oral ou injetável. Em ambos os casos, os fármacos entram na corrente sanguínea e circulam pelo corpo. Em geral, são administrados em ciclos, de modo a que haja um período de recuperação a seguir a cada período de tratamento.

A quimioterapia pode ser administrada no hospital, em regime ambulatório, no consultório médico ou em casa.

O doente raramente necessita de ficar hospitalizado. As crianças têm maior probabilidades de serem submetidas a quimioterapia do que os adultos. No entanto, os adultos podem receber quimioterapia após a cirurgia, concomitante com a radioterapia, ou posterior a esta.

Em alguns doentes com cancro cerebral recorrente, o neurocirurgião remove o tumor e implanta vários discos contendo quimioterapia. Cada disco é mais ou menos do tamanho de uma moeda. O disco dissolve-se ao longo de várias semanas, libertando o fármaco no encéfalo para matar as células cancerígenas.

Os doentes poderão querer colocar as seguintes perguntas sobre quimioterapia:
  • Por que razão preciso deste tratamento?
  • Que efeito terá?
  • Tem efeitos secundários? O que posso fazer para os minimizar?
  • Quando começará o tratamento? Quando terminará?
  • Com que frequência terei de realizar exames médicos completos, incluindo análises clínicas?

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