O tratamento do cancro da bexiga

Muitos doentes com cancro da bexiga reclamam um papel ativo nas decisões acerca dos cuidados médicos que lhes serão prestados. Querem estar o mais informados possível sobre a sua doença e as opções de tratamento.

Contudo, o choque e a tensão que as pessoas habitualmente sentem após um diagnóstico de cancro fazem com que seja difícil pensar em tudo o que gostariam de perguntar ao médico. Muitas vezes, é útil preparar uma lista de perguntas antes da consulta.

Falar com o médico

Para ajudar a relembrar o que o médico disse, os doentes podem tirar apontamentos ou pedir autorização para utilizar um gravador. Alguns doentes querem ainda ter consigo um familiar ou amigo quando falam com o médico para participar na discussão, tomar notas ou simplesmente ouvir.

O médico pode encaminhar os doentes para médicos especializados no tratamento do cancro ou os próprios doentes podem solicitar esse encaminhamento.

Em geral, o tratamento inicia-se poucas semanas após o diagnóstico. Os doentes terão tempo para falar com o médico sobre as opções de tratamento, para pedir uma segunda opinião e para saber mais sobre o cancro da bexiga.

  
  

Obter uma segunda opinião

Antes de iniciar o tratamento, o doente pode querer uma segunda opinião relativamente ao diagnóstico e ao plano de tratamento. Reunir os resultados dos exames médicos e preparar-se para consultar outro médico pode demorar algum tempo. Na maioria dos casos, um breve atraso não reduz a eficácia do tratamento.

Existem várias formas de encontrar um médico para obter uma segunda opinião.

Entre os especialistas que tratam o cancro da bexiga contam-se os cirurgiões, os urologistas, os oncologistas, os radio-oncologistas e os urologistas oncológicos. Na generalidade, estes médicos trabalham em equipa.

Preparação para o tratamento

O médico define um plano de tratamento adaptado às necessidades de cada doente. O tratamento depende do tipo de cancro da bexiga, do estadio da doença e do grau do tumor (o grau do tumor indica o grau de semelhança entre as células cancerígenas e as células normais e dá uma indicação da possível rapidez de evolução do cancro).

Em geral, um cancro de baixo grau evolui e dissemina-se mais lentamente do que um tumor de alto grau. O médico deve ter igualmente em conta outros fatores, como a idade e o estado geral de saúde da pessoa.

Exemplos de questões que podem ser colocadas ao médico, antes de iniciar o tratamento:
  • Qual é o meu tipo de cancro da bexiga?
  • Qual é o estadio da minha doença? O cancro está disseminado?
  • Qual é o grau do tumor?
  • Quais são as minhas opções de tratamento? O que é que me recomenda? Porquê?
  • Que benefícios posso esperar de cada tipo de tratamento?
  • Quais são os possíveis riscos e efeitos secundários de cada tratamento?
  • Qual é o custo estimado do tratamento? Este tratamento está abrangido pelo meu seguro?
  • De que forma é que o tratamento afectará a minha atividade normal?
  • Qual a duração do meu tratamento?

Não é necessário fazer todas as perguntas nem compreender todas as respostas de uma só vez. Haverá certamente outras oportunidades para pedir ao médico que lhe explique o que não percebeu e para solicitar mais informações.

Tratar o cancro da bexiga

Os doentes com cancro da bexiga têm várias opções de tratamento. Podem ser submetidos a cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou terapêutica biológica. Alguns doentes são submetidos a terapêutica combinada.

O médico é a pessoa indicada para descrever as opções de tratamento e debater os resultados esperados.

O doente pode querer debater com o médico a possível participação num ensaio clínico, ou seja, num estudo de investigação de novos métodos de tratamento.

Cirurgia

A cirurgia é um tratamento comum no cancro da bexiga. O tipo de cirurgia depende muito do estadio e do grau do tumor.

O médico pode explicar cada tipo de cirurgia e determinar qual a mais adequada para o doente:

  • Ressecção transuretral (RTU): o médico pode tratar cancros da bexiga em estadio precoce (superficiais) através da ressecção transuretral (RTU). Durante a RTU, é inserido um cistoscópio na bexiga através da uretra utilizando, depois, uma ferramenta com um pequeno arame em forma de anel na extremidade, para remover o cancro e queimar, através de corrente eléctrica, as células cancerígenas remanescentes; este procedimento é designado por fulguração. O doente pode ter de ser hospitalizado e necessitar de anestesia. Depois da RTU, os doentes podem ainda receber quimioterapia ou terapia biológica.
  • Cistectomia radical: nos cancros da bexiga invasivos, o tipo de cirurgia mais comum é a cistectomia radical. Os médicos optam por este tipo de cirurgia quando o cancro afecta uma grande parte da bexiga. A cistectomia radical consiste na remoção total da bexiga, gânglios linfáticos adjacentes, parte da uretra e órgãos adjacentes que possam conter células cancerígenas. Nos homens, os órgãos adjacentes removidos são a próstata, a vesícula seminal e parte dos canais deferentes. Nas mulheres, são removidos o útero, os ovários, as trompas de Falópio e parte da vagina.
  • Cistectomia segmentar: nalguns casos, pode apenas ser removida parte da bexiga, através de um procedimento designado por cistectomia segmentar. Em geral, o médico opta por este tipo de cirurgia quando o cancro é de baixo grau e apenas invadiu uma parte da parede da bexiga.

Por vezes, quando o cancro já se disseminou para o exterior da bexiga e não pode ser completamente removido, o cirurgião remove a bexiga mas não tenta remover a totalidade do cancro.

O cirurgião pode, ainda, não remover a bexiga mas criar uma outra via de saída da urina. O objectivo da cirurgia pode ser o de aliviar o bloqueio urinário ou outros sintomas causados pelo cancro.

Quando a totalidade da bexiga é removida, o cirurgião cria outro canal para a saída da urina. O doente pode usar um saco no exterior do corpo ou o cirurgião pode criar uma bolsa no interior do corpo, utilizando parte do intestino.

As secções Efeitos Secundários e Reabilitação contêm mais informação sobre estes procedimentos.

Radioterapia

A radioterapia (terapia por radiação) utiliza raios de alta energia para matar as células cancerígenas. À semelhança da cirurgia, a radioterapia é uma terapia local que apenas afecta as células cancerígenas na área tratada.

Alguns doentes podem receber radioterapia antes da cirurgia para reduzir a dimensão do tumor. Outros podem receber este tratamento após a cirurgia para matar as células cancerígenas que possam ter restado nessa área. Por vezes, a radioterapia substitui a cirurgia em doentes que não podem ser submetidos a procedimentos cirúrgicos.

São utilizados dois tipos de radioterapia para tratar o cancro da bexiga:

  • Radiação externa: a radiação é aplicada com um aparelho de grande dimensão que dirige a radiação para a área do tumor. A maioria das pessoas que recebe radiação externa é tratada 5 dias por semana durante 5 a 7 semanas, em regime de ambulatório. Esta calendarização ajuda a proteger células e tecidos saudáveis, uma vez que a dose total de radiação é distribuída ao longo de vários dias. O período de tratamento pode ser menor se a radiação externa for administrada juntamente com implantes radioativos.
  • Radiação interna: é colocado um pequeno recipiente contendo uma substância radioativa na bexiga através da uretra e da realização de uma incisão no abdómen. Durante este tratamento, o doente fica hospitalizado alguns dias. Para proteger as outras pessoas da exposição à radiação, os doentes não podem ter visitas ou só podem tê-las durante um curto período de tempo, enquanto o implante estiver aplicado. Uma vez removido o implante, não fica qualquer radioatividade no organismo. Alguns doentes com cancro da bexiga recebem os dois tipos de radioterapia.
Exemplos de questões que poderão ser colocadas ao médico sobre a radioterapia:
  • Por que necessito desta terapia?
  • Como será aplicada a radiação?
  • Terei de ser hospitalizado? Durante quanto tempo?
  • Quando começarão os tratamentos?
  • Quando terminarão?
  • Como me irei sentir durante a terapia? Existem efeitos secundários?
  • Que cuidados devo ter comigo durante o tratamento?
  • Como sabemos se a radiação está a resultar?
  • Poderei desempenhar a minha atividade normal durante o tratamento?
  • Com que frequência terei de fazer exames médicos completos?
Quimioterapia

A quimioterapia utiliza fármacos para matar as células cancerígenas. Pode ser utilizado apenas um fármaco ou uma combinação de fármacos.

Em doentes com cancro da bexiga superficial, o médico pode recorrer à quimioterapia intravesical, depois de remover o cancro por RTU. Trata-se de uma terapia local, em que é inserido um tubo (catéter) através da uretra de forma a introduzir fármacos líquidos na bexiga. Os fármacos permanecem na bexiga durante várias horas e afectam sobretudo as células da bexiga. Habitualmente, o tratamento realiza-se uma vez por semana, durante várias semanas. Por vezes, os tratamentos são administrados uma ou várias vezes por mês, durante um período que pode ir até um ano.

Se o cancro tiver invadido profundamente a bexiga ou se se tiver disseminado para os gânglios linfáticos ou outros órgãos, o médico pode administrar fármacos através de uma veia.

Este tratamento é designado por quimioterapia intravenosa. Trata-se de uma terapêutica sistémica, o que significa que os fármacos circulam na corrente sanguínea, atingindo praticamente todas as regiões do organismo. Em geral, os fármacos são administrados em ciclos de tratamento, de modo a que haja um período de recuperação, a seguir a cada período de tratamento.

O doente pode receber apenas quimioterapia ou uma combinação com cirurgia, radioterapia ou ambas. Habitualmente, a quimioterapia é administrada num hospital, clínica ou consultório médico, em regime de ambulatório. Contudo, dependendo dos fármacos administrados e do estado geral de saúde, o doente pode necessitar de ser hospitalizado por um curto período.

Imunoterapia

A imunoterapia utiliza as capacidades naturais do organismo (sistema imunitário) para combater o cancro.

O tratamento com imunoterapia é uma forma de tratamento sistémico. Utiliza substâncias que se deslocam através da corrente sanguínea, atingindo e afectando células em todo o corpo.

Em doentes com cancro da bexiga metastático (estadio IV), o médico pode receitar tratamento de imunoterapia. Existem actualmente diferentes aprovados.

Terapêutica Biológica

A terapia biológica é utilizada mais frequentemente depois de RTU e em caso de cancro superficial da bexiga; ajuda a prevenir recidivas do cancro. O médico pode recorrer à terapia biológica intravesical com solução BCG.

A solução BCG contém bactérias vivas e enfraquecidas. As bactérias estimulam o sistema imunitário para matar as células cancerígenas na bexiga. É utilizado um catéter para introduzir a solução na bexiga. O doente deverá manter a solução na bexiga durante cerca de 2 horas. Em geral, o tratamento com BCG realiza-se uma vez por semana, durante 6 semanas.

Exemplos de questões que poderão ser colocadas ao médico sobre quimioterapia, imunoterapia ou terapia biológica:
  • Por que razão necessito deste tratamento?
  • Qual o fármaco que me irão administrar? Como será administrado? Que efeito terá?
  • Tem efeitos secundários? O que posso fazer para os minimizar?
  • Durante quanto tempo terei de fazer este tratamento?
  • Com que frequência terei de realizar exames médicos completos?

Avanços recentes conduziram a novas opçoes de tratamento para os doentes com cancro da bexiga. Contudo, continuam a existir necessidades não-preenchidas em todos os estadios.

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