Urostomias
Longe vai o tempo em que uma doença oncológica era presságio de uma morte pré-anunciada. A evolução tecnológica e da Medicina permite aos médicos e técnicos de saúde diagnosticar e tratar de forma precisa e cada vez mais eficaz doenças que há 20 anos eram fatais.
O volume de cirurgias onde é removida a bexiga (cistectomia) é cada vez maior . Isso acontece porque os tumores vesicais (da bexiga) são detetados numa fase cada vez mais precoce, onde ainda é possível o tratamento cirúrgico e curativo.
Uma urostomia ou cistectomia acarreta uma enorme alteração corporal e traz a necessidade de adaptação de uma nova forma de viver. A própria cirurgia é complexa e tem um pós-operatório bastante delicado, com uma recuperação lenta, sendo o tempo médio de internamento de cerca de 2 a 3 semanas.
Mas hoje há um conjunto de técnicos de saúde altamente especializados, cada vez mais conscientes e focados nas necessidades de cada pessoa, na sua recuperação e integração na sociedade. Esta cirurgia não é um processo fácil, bem pelo contrário: é doloroso, penoso, e moroso, mas é importante saber que os profissionais de saúde estão plenamente conscientes disso e, portanto, tudo vão fazer para ajudar a superar esta fase, voltar a ser independente e a ter uma vida ativa, que seja o mais próxima possível da que o doente tinha anteriormente.

Vou ser urostomizado, e agora?
A principal causa de cistectomia é tumoral (cancro), mas existem outras causas, , como as traumáticas (acidente de viação) ou por sequelas de radioterapia (bexiga rádica), que podem causar hemorragias vesicais constantes, difíceis de tratar, em que o médico urologista, de forma a tentar dar ao paciente maior qualidade de vida, pode sugerir uma cistectomia (urostomia).
São notícias dolorosas. A primeira vez que o médico aborda o paciente sobre a necessidade de cirurgia e finalização com uma urostomia, é um momento marcante, onde a informação surge de forma nebulosa e onde pode haver tendência para negar a gravidade da situação. A mente, tal como o corpo, precisa de tempo para aceitar e enfrentar a realidade e as adversidades.
epois de constatar a necessidade de cirurgia e comunicar a notícia ao paciente , o médico agenda uma consulta de enfermagem pré operatória ( antes da cirurgia), onde um enfermeiro especialista em ostomias ( Enfermeiro Estomaterapeuta) volta a explicar o que vai acontecer, avalia as necessidades individuais da pessoa, indica como vai ser o seu dia a dia após este procedimento e explica o que vai acontecer durante o internamento.
Nessa consulta de enfermagem, o doente pode também ter o primeiro contacto com os materiais e os dispositivos existentes de que vai necessitar para recolher a urina após a cirurgia.
É na consulta de enfermagem de estomaterapia pré-operatória que é efetuada a marcação do local onde vai ser colocada a urostomia – isso vai permitir a redução de potenciais complicações e assegurar o caminho para a autonomia do paciente. Neste sentido, também se tenta criar a proximidade entre os diferentes doentes para partilharem as suas dificuldades e formas de as contornar.
O que é, afinal, uma urostomia?
De uma forma simplificada, uma urostomia, é uma derivação urinária incontinente, onde a bexiga é removida e os rins são ligados à pele, para excretar a urina. Como incontinente que é, está sempre a excretar urina, daí a necessidade de adaptarmos um dispositivo capaz de recolher essa mesma urina eficazmente, da mesma forma que a bexiga o fazia, impedindo fugas e percalços no dia-a-dia.
Todo o processo é realizado para que o doente seja o mais independente possível e, apesar da sua nova condição física, seja capaz de lidar com a sua mudança e conseguir efetuar a troca e o manuseamento do dispositivo coletor o mais autonomamente possível.
Aliás, durante o próprio internamento, o doente é encorajado a lidar com a sua nova condição, a visualizar o estoma e, sempre que possível, a manusear os dispositivos coletores de urina.
Idealmente o doente deveria sair do internamento capaz de lidar sozinho com o seu dispositivo de urostomia, sabendo despejá-lo e trocá-lo sempre que necessário. Mas nem sempre isto é possível. O doente está debilitado física e emocionalmente e o tempo de internamento acaba por não ser suficiente para dar conseguir esta autonomia.
Por isso, é importante formar um cuidador de suporte, que é ensinado a manusear os dispositivos para poder ajudar o doente num momento de necessidade. Muitas vezes, os reais problemas e as complicações só surgem após o internamento, quando a pessoa se encontra sozinha, na sua casa, e sem o acompanhamento constante dos profissionais de saúde.
- Após o internamento, o doente terá sempre a ajuda e o acompanhamento do Centro de Saúde da área de residência.
Os hospitais disponibilizam também uma consulta de enfermagem de Estomaterapia, onde o doente continuará a ser seguido, para poder treinar, colocar dúvidas, despistar complicações, sempre rumo à sua autonomia. É uma consulta à qual pode recorrer sempre que necessitar durante a sua vida. O doente deve assegurar-se de que fica marcada esta consulta de enfermagem de Estomaterapia.
Qual o Aspeto de uma Urostomia?
O aspeto de uma urostomia é oval, avermelhada e húmida, assemelhando-se à mucosa da boca, deve ser saliente relativamente à pele e indolor ao toque.
Após a cirurgia, existem pontos de sutura a fixar o estoma à pele; esses pontos acabam por desaparecer a partir da terceira semana pós cirurgia.
Figura 2.

Figura 3.

Podem voltar a reconstruir a minha bexiga como acontece em algumas colostomias?
Quando é removida a bexiga, ainda não existe técnica que permita reconstruir novamente a bexiga ou instalar uma bexiga artificial.
Rotina Diária do Urostomizado: De quanto em quanto tempo deve trocar o dispositivo
- O dispositivo de Ostomia deve ser trocado de 3/3 dias, tanto no sistema de peça única como no sistema de duas peças. De forma a facilitar o processo, aconselha-se trocar duas vezes por semana em dias fixos, criando assim uma rotina. Este processo pode ser feito na casa de banho, , no quarto, de pé ou sentado, de acordo com o doente e com aquilo que lhe for mais favorável.
Material necessário para mudança do dispositivo
Antes de proceder à mudança do dispositivo é importante ter o material necessário:
- Tesoura, de preferência com ponta curva
- Molde (se necessário)
- Novo dispositivo (peça única ou duas peças)
- Sabão com PH neutro (de preferência sabão líquido com doseador)
- Esponja, de preferência macia
- Toalha ou rolo de cozinha para secar a pele
- Saco do lixo de plástico
É recomendável, aquando da mudança do dispositivo, ter dois ou três dispositivos com o recorte já previamente efetuado, de forma a prevenir percalços.
Limpeza da Urostomia e pele peri-estomal
A Limpeza da Urostomia e pele peri estomal deve ser feita com água e sabão com ph neutro, de preferência sem perfume, para evitar possíveis alergias. Não é aconselhável a utilização de outras substâncias. Algumas, além de serem caras, não trazem benefício nenhum para o doente e podem mesmo impedir uma correta adesão do dispositivo.
A pele deve ser seca com toalha macia ou com papel absorvente, como o papel de cozinha.
Recortar a placa
O recorte da placa deve ser o mais justo possível ao estoma, de forma a impedir que a urina danifique a pele circundante. Podemos utilizar o papel removido da placa recortada para servir de molde para a placa seguinte.
É importante saber que a urostomia vai diminuir de tamanho durante os primeiros meses pós-operatório e será necessário reajustar o tamanho do recorte da placa.
Remoção do Dispositivo
A remoção deve ser feita sempre no sentido descendente, começando a descolar a placa na parte superior de forma evitar escorrências de urina.
Existe um spray removedor de adesivos próprio para ajudar a descolar o dispositivo, que deve ser utilizado antes de executar este procedimento. É comparticipado gratuitamente, com receita médica.
Aplicação do dispositivo
O melhor tratamento é a prevenção. Antes de aplicar um novo dispositivo devemos proteger a pele através da utilização de um spray protetor cutâneo, que também é gratuito , com receita médica.
O dispositivo deve ser colocado de baixo para cima, de forma a visualizar o estoma, e após aplicação deve ser efetuada pressão com as mãos quentes para facilitar a adesão do material da placa à pele. É importante ficar dois a três minutos, contados pelo relógio, a pressionar as mãos quentes contra o dispositivo,. Isto vai facilitar a adesão do dispositivo e permitir que se mantenha colado durante os próximos três dias.
Nos sistemas de duas peças, é indiferente aplicar primeiro a placa ou colar saco e placa já adaptados. Escolha o método que for mais fácil para si.
Dispositivos e acessórios
Durante o internamento, o estoma estará mais inchado e existem dois tubos que saem de dentro do mesmo (cateteres ureterais), para fazer a drenagem da urina e que permanecerão durante três a quatro semanas. Assim, durante o internamento, para os enfermeiros poderem visualizar o estoma, sua coloração e manutenção do mesmo, o paciente usará um sistema de duas peças com saco transparente.
Após a alta hospitalar, existe muito material disponível no mercado que o doente pode adquirir gratuitamente de forma a facilitar o seu dia a dia.
Há várias marcas com dispositivos que são comparticipados de forma gratuita, em qualquer farmácia ou diretamente aos fabricantes, desde que seja apresentada uma receita, que poderá ser passada pelo médico urologista, oncologista ou pelo médico de família.
Os dispositivos de urostomia, vulgarmente chamados de “sacos”, podem-se dividir em dois tipos: de uma peça, ou duas peças. Existem vantagens e desvantagens em ambos e será o paciente, com ajuda do enfermeiro Estomaterapeuta, se assim o desejar, que vai escolher a melhor opção para si.
Dispositivos
Dispositivos de 1 peça
Como o nome indica, são “sacos” de peça única, onde a base é maleável e de fácil adesão à pele, são mais discretos. Uma grande maioria dos pacientes opta por esta solução.
Podem ser transparentes, o que facilita a sua colocação, ou opacos, tornando o dispositivo mais discreto.
Dispositivos de 2 peças
São compostos por uma placa mais rígida que o modelo anterior; depois de aderente à pele, é possível acoplar um saco, através de uma conexão macho/fêmea. São dispositivos menos discretos que o sistema de peça única, contudo, em algumas situações são preferíveis, pois permitem a fixação de um cinto, que proporcionar um reforço na adesividade, permitindo ao paciente sentir uma segurança extra.
Também permitem rodar a conexão do saco, de forma a que a válvula de despejo do saco mude de posição.
Assim, quando o paciente está de pé, a válvula fica numa posição completamente vertical, mas quando deita, é possível “rodar” o saco e fazer com que a válvula fique numa posição de 90 graus relativamente ao paciente, fazendo com que o saco drene o conteúdo de forma facilitada.
O utente não tem de fazer uma escolha definitiva sobre que tipo de dispositivos usar, podendo sempre alterar o tipo de dispositivo coletor que usa a qualquer momento, entre uma peça e duas peças, de acordo com as suas necessidades. Assim como também pode alterar a marca, ou experimentar as várias marcas disponíveis, até encontrar aquela que melhor se adeque à sua condição.
Protetor Cutâneo
Ajuda a evitar irritações e lesões de pele causadas por infiltrações, previne dermatites causadas pelo excesso de suor e humidade e também ajuda na fixação do dispositivo.
É comparticipado a 100% (com receita) e pode ser adquirido em Farmácia e/ou Fornecedores. Tem uma utilização preventiva (profilática), mas também pode ser usado para tratamento de pequenas lesões cutâneas.
Existe em spray ou em toalhitas.
Removedor de adesivo
Por vezes, a remoção do dispositivo de urostomia pode ser dolorosa ou causar pequenas lesões, se o dispositivo estiver muito aderente à pele e for removido de forma mais agressiva. . Essas lesões podem ser de difícil cicatrização pela presença constante de urina.
Assim, de forma a facilitar a remoção, existe o removedor de adesivos, em spray ou toalhetes, que humedece os dispositivos e facilita a sua extração. É adquirido gratuitamente nas farmácias e/ou fornecedores, com receita médica. Deve ser aplicado antes de remover o dispositivo.
Sacos coletores de urina
São úteis devido à sua grande capacidade de coletar, para serem usados durante a noite, ou também por pessoas mais debilitadas, que não conseguem efetuar sozinhas o esvaziamento do dispositivo de urostomia.
Pode ser adquirido de forma gratuita nas farmácias e/ou fornecedores com receita médica.
Anéis
São úteis para serem utilizados quando há alterações na morfologia da Urostomia. Quando existem pregas cutâneas ou quando o estoma é raso à pele.
O Enfermeiro Estomaterapeuta vai aconselhar o seu uso sempre que ache pertinente (também adquiridos de forma gratuita com receita médica).
Tiras de fixação
São tiras em forma de meia lua, que não causam lesões na pele, que podem ser colocadas para reforçar a adesividade dos dispositivos.
Também comparticipadas a 100%.
Pó para estomas
É um pó super-absorvente, utilizado para controlar o exsudado (líquido) , quando existem lesões na pele. Favorece a cicatrização.
É comparticipado a 100% com receita médica.
Deve ser usado com moderação e sob orientação, já que a sua utilização excessiva pode conduzir à formação de grumos que levarão ao surgimento de novas lesões cutâneas.
Cinto de fixação
Os dispositivos de duas peças permitem a fixação de um cinto, que em alguns casos pode ser útil para proporcionar maior conforto ou para favorecer a adesão do dispositivo em situações mais complexas.
Os pacientes referem muitas vezes um conforto extra por sentirem o dispositivo preso pelo cinto.
Também é comparticipado a 100% com receita médica.
Nivelador em bisnaga/pasta
É uma pasta hidrocolóide(que se transforma em gel) usada para preencher a pele quando existem pregas cutâneas e evitar assim infiltrações de urina. Também promove a adesividade do dispositivo.
Dormir com uma urostomia
Na hora de dormir, várias estratégias podem ser adotadas para tornar a noite do paciente urostomizadoo mais tranquila possível.
Enquanto que numa pessoa sem estoma urinário, durante a noite a bexiga vai enchendo, um urostomizado vai continuar a produzir urina também. Como os dispositivos têm sacos com capacidade para 750 ml, na sua capacidade máxima, haveria necessidade de se levantar durante a noite, mais do que uma vez para despejar o saco. Para contornar isso, aconselha-se o acoplamento ao dispositivo de urostomia de saco coletor de urina de 1500 ml, que pode ser adquirido gratuitamente com receita médica.
Este mesmo saco não tem necessidade de uma substituição diária, podendo ser despejado na manhã seguinte, e depois de uma lavagem do mesmo através de introdução de ácido acético (vinagre) para neutralizar odores, passado por água e guardado em local limpo e seco.
Aconselha-se ao urostomizado dormir do lado da confeção da urostomia, sendo normalmente do lado direito, para que o tubo do saco coletor de urina consiga chegar ao chão e não ficar a fazer pressão no dispositivo. Este saco não deve ficar em contacto com o chão, mas sim, preso a algum suporte na cama ou então dentro de um saco plástico.
Eliminação dos sacos usados
O conteúdo dos sacos deve ser despejado numa sanita e os dispositivos podem ser colocados no lixo comum.
Infeções urinárias
Depois de uma urostomia, existe maior risco de desenvolver infeções do trato urinário. É importante a ingestão de cerca de 2 a 3 litros de água por dia.
Existem estudos que recomendam a ingestão diária de arandos vermelhos, em sumo ou mesmo em comprimidos, para evitar infeções urinárias. (exceto se estiver a fazer medicação hipocoagulante com varfarina).
É importante que o paciente faça uma auto monitorização da sua urina; se esta está escura, é sinal de que não está a beber água ou líquidos suficientes, devendo aumentar a ingestão de líquidos.
Sinais de infeção urinária:
- Sintomas gripais
- Febre
- Dores lombares
- Tremores
- Urina turva e/ou com cheiro intenso
Sabonetes e cremes
A pele à volta do estoma é muito sensível devido contacto constante com urina e com o dispositivo de urostomia. Sabonetes com fragrâncias podem ser agressivos e irritar a pele.
Por outro lado, a aplicação de cremes para hidratar a pele também está contra-indicada, pois tudo o que seja gorduroso vai impedir uma correta adesão do dispositivo de urostomia.
Hérnias abdominais
É possível o aparecimento de hérnias abdominias nos doentes urostomizados. Contudo, não é frequente, desde que existam alguns cuidados.
A marcação prévia do local da urostomia previne o seu aparecimento.
O exercício físico intenso é desaconselhado durante os primeiros seis meses pós cirúrgicos.
O paciente é desencorajado a pegar em pesos demasiado pesados e tudo o que envolva grande esforço abdominal deve ser evitado.
O uso de cinta abdominal de forma preventiva (profilática) é controverso, mas se o paciente se sentir mais confortável pode ser uma opção válida.
A cinta não necessita de ter recorte no local da urostomia.
Infeções pós-operatórias aumentam a probabilidade de surgimento de hérnias, aumentando a necessidade de cuidados extras por parte do paciente.
A cirurgia de correção de hérnia deve ser considerada apenas em última opção.
Dieta e alimentação
Um urostomizado poderá realizar uma dieta normal. Sempre privilegiando a ingestão de líquidos. Algumas pessoas poderão sentir-se melhores com ingestão de pequenas quantidades de comida, várias vezes ao dia.
É comum após a cirurgia os doentes referirem obstipação e dificuldades no trânsito intestinal; isto acontece porque é retirada uma pequena porção do intestino para a reconstrução da urostomia. Assim, uma dieta com alimentos ricos em fibra deve ser priorizada. As fibras encontram-se na fruta, legumes, pão integral, cereais, arroz e massas integrais.
As bebidas alcoólicas não estão proibidas, mas, como tudo, devem ser ingeridas com moderação, ou de preferência ingeridas apenas em ocasiões especiais. Se o paciente notar que existe alteração da urina, ou da pele peri estomal após ingestão de alguma bebida alcoólica, esta deve ser excluída da dieta.
Mais uma vez, a introdução na alimentação de suplementação com arandos vermelhos, está descrita como sendo benéfica na prevenção de infeções urinárias. (exceto se estiver a fazer medicação hipocoagulante com varfarina).
Existem alimentos que podem alterar a cor da urina, tais como:
- Beterraba
- Corantes Alimentares
- Bebidas Vermelhas
- Espargos
Exercício
Após ser urostomizado, é importante adaptar um estilo de vida saudável. A partir do terceiro mês pós cirurgia poderá começar a fazer exercício.
Deverá começar progressivamente, como por exemplo começar por fazer pequenas caminhadas, antes de partir para uma corrida. Uma simples caminhada de 40 minutos por dia, pode ser benéfica a vários níveis.
Pode frequentar ginásio se assim o entender, contudo, os pesos deverão ser reduzidos.
As aulas de grupo podem ser frequentadas, há vestuário próprio que disfarça o dispositivo de ostomia e pode sempre questionar o seu Enfermeiro Estomaterapeuta sobre onde encontrar este tipo de vestuário.
Antes de realizar qualquer exercício deverá esvaziar por completo o seu dispositivo de ostomia.
A natação não é proibida. Uma dica para praticar passa por aplicar película aderente em torno da região abdominal antes de entrar na piscina; assim, o dispositivo de urostomia não vai atrapalhar a natação.
Urostomia e Viagens
Um urostomizado poderá fazer uma vida o mais normal possível, por isso, viajar não é contraindicado, contudo deverá planear a viagem com antecedência:
- Fazer lista com os produtos que poderá precisar
- Rever as rotinas diárias para precaver algum esquecimento
- Calcular o número de dispositivos que vai necessitar e levar pelo menos o dobro, pois imprevistos sempre acontecem
- Manter os produtos de ostomia como bagagem de mão
- Perceber que apoios existem no local para onde vou (farmácia, hospital)
Urostomia e condução
Um urostomizado pode conduzir normalmente, mas não deve fazê-lo nos primeiros três meses depois da cirurgia. Se for a conduzir, poderá acoplar o saco coletor de urina, de forma a aumentar a capacidade de recolha de urina e não ter de parar o carro frequentemente.
Caso o cinto de segurança incomode ou fique a embater na urostomia, causando dor ou embaraço, o urostomizado, com a carta de alta médica, pode dirigir-se à PSP e pedir uma declaração para poder conduzir sem cinto de segurança.
Urostomias e Vestuário
Não existe razão para um não poder diversificar a forma como se veste, ou para não se sentir seguro.
Sexualidade
Depois de uma urostomia pode continuar a disfrutar como antes de relações amorosas, contudo por vezes não é possível vivê-las do mesmo modo e poderá ser necessário ajuda de especialista. Enquanto os homens poderão ter dificuldade em manter ou ter uma ereção, as mulheres poderão sentir algum desconforto durante a relação sexual.
Assim, é importante abordar este tema com o enfermeiro ou médico. O sexo continua a ser um tema tabu e se o paciente não abordar estas questões com o médico ou enfermeiro, mais difícil será a sua resolução. Enquanto os homens podem necessitar de medicação que possibilite ter uma ereção, que terá de ser prescrita pelo médico, as mulheres podem precisar de lubrificantes sexuais para facilitar o ato sexual e diminuir o desconforto; por vezes também optar por encontrar posições sexuais mais confortáveis.
Dicas Úteis:
- Nunca deixar o saco encher mais do que metade da sua capacidade máxima
- Beber 2 a 3 litros água por dia previne complicações
- Utentes obesos podem preferir uso de suspensórios em detrimento do cinto, para se sentirem mais confortáveis, e para evitar lesões provocadas pelo mesmo
- Suplementação diária com arandos vermelhos ajuda a evitar infeções urinárias ( exceto se estiver a fazer medicação hipocoagulante com varfarina)
- Sempre que sair de casa, deve andar sempre com um kit de viagem composto por:
– Pelo menos 3 sacos já recortados
– Tesoura
– Uma embalagem de lenços papel
– Saco plástico
– Pequeno espelho
Guia Rápido para resolver pequenas complicações
Sangramento do estoma
O sangramento da urostomia é bastante comum, e é normal, por ser um tecido muito sensível.
Fazer pressão com um pano humedecido com água fria durante 2 minutos é o suficiente para parar a hemorragia
Alergia ao Dispositivo
Por vezes, e sem razão ou explicação, a própria pele pode fazer reação ao próprio dispositivo.
Pode ser por sensibilidade ao material do dispositivo ou por infiltração de urina entre a pele e o material.
Nestas situações pode sempre contar com a ajuda de um Enfermeiro Estomaterapeuta. A solução pode passar por aplicação de corticoterapia tópica (medicamentos corticóides de uso local), assim como mudar para outra marca de material. As diferentes marcas apresentam pequenas alterações na composição das placas, que podem ser a causa de irritações em peles mais sensíveis.

Presença de Muco
A presença de muco na urostomia, apesar de poder causar desconforto visual, é normal, com maior incidência nos primeiros meses pós cirurgia, tendo tendência a diminuir com o tempo. Aumentar a ingestão de água e efetuar suplementação com arando vermelho (exceto de estiver a tomar medicação com varfarina) podem ser uma solução eficaz.

Cristais de fosfato de cálcio
Os cristais de fosfato de cálciosurgem no estoma como umas placas brancas, e devem-se à alcalinização da urina. Mais uma vez, a suplementação com arando vermelho (exceto de estiver a tomar medicação com varfarina), assim como aumentar a ingestão de citrinos, normalmente reduz esta formação.
Deve optar-se por aplicar dispositivo de 2 peças, e aplicação tópica de compressa embebida em ácido acético (vinagre) diluído na proporção de ½ com água durante 30 minutos diariamente.

Nefrostomias Percutâneas (NPC)
Uma nefrostomia percutânea é considerada uma urostomia. A razão pela qual é colocada pode variar, mas a finalidade é sempre a mesma, que é drenar a urina produzida pelo rim, através de um cateter colocado através da pele.
Tradicionalmente as nefrostomias são colocadas em contexto de urgência, não havendo possibilidade de o fazer na consulta pré-operatória.


Normalmente as nefrostomias não são definitivas, mas o paciente pode andar vários meses até a sua situação poder ser tratada.
Tratamos as nefrostomiascomo uma urostomia, assim os cuidados são os mesmos. Há a necessidade de coletar a urina drenada pelo cateter e usamos para isso, um dispositivo de urostomia.
A ideia é que um doente com nefrostomia possa fazer as suas atividades de vida diárias normalmente. A nefrostomia é indolor e causa apenas um ligeiro desconforto no paciente.
Uma pessoa com nefrostomia nunca vai ficar autónoma na mudança do dispositivo, pois este é colocado na região lombar, e torna-se fisicamente muito difícil para o próprio executar esta tarefa;mas conseguirá esvaziar o conteúdo do dispositivo facilmente.
É importante que alguém próximo do paciente seja treinado para conseguir efetuar a troca do dispositivo, contudo o doente terá sempre o apoio do centro de saúde e da consulta de enfermagem de estomaterapia para ajudar neste processo.
Assim, antes da alta hospitalar, um familiar mais próximo será ensinado, para assegurar a autonomia possível do paciente e evitar que se desloque às urgências a meio da noite caso o dispositivo descole acidentalmente.
- O cateter de nefrostomia deverá ser trocado pelo médico a cada 6 meses
- O dispositivo de urostomia deve ser trocado a cada 3 dias
- Paciente pode usar dispositivos de 1 peça ou 2 peças
- Com o tempo o cateter inicialmente azul irá ficar com uma coloração escura / preto
- Pode formar-se ao longo do cateter depósitos amarelados de cristais, que deverão ser tratados pelo Enfermeiro Estomaterapeuta
- O cateter de nefrostomia não necessita de estar fixo à pele com material de sutura, pois a ponta do cateter fica enrolada dentro do rim, e não sairá a não ser que seja “puxado”.
- Caso o paciente sinta dor lombar pode ser sinal de obstrução da nefrostomia, e deverá contactar o seu médico, enfermeiro ou caso não consiga, dirigir-se ao serviço de urgência.
- Febre pode ser sinal de infeção do trato urinário e deve ser motivo de preocupação, pelo que deve procurar o seu médico.
- Caso a nefrostomia se exteriorize acidentalmente, o paciente deverá contactar o médico para recolocação de novo cateter
- Os dispositivos e acessórios para doente com nefrostomia são comparticipados a 100% mediante receita médica.
- Os dispositivos de urostomia, quando aplicados numa nefrostomia, não necessitam de ecorte de placa, devendo ser colocados sem recortar a placa.
- Os dispositivos de urostomia contém uma válvula anti-retorno, essa válvula não deve ser danificada para facilitar a colocação da nefrostomia dentro do saco de urostomia.
